Mais um trecho da peça maluca que estou escrevendo. Estou começando a gostar desses dois personagens.
Carrasco: Queria que fosse possível nomear a sensação que sinto.
Rei: E no que se resume tal confusão de sentidos inomináveis? De certo são sublimes demais para serem expressados com meras palavras ou profundos demais para que a ousadia de vossa boca pronuncie-os sem que lhe contamine com pesar.
Carrasco: Nem um, nem outro, Rei Condenado. Eu diria que é densa e mordaz, vívida e asquerosa. Quase onipresente.
Rei: Não a tomaria por paixão?
Carrasco: Longe disso tanto quanto seu oposto.
Rei: Ódio, palpito eu... Há quem diga que o ódio é o amor insano. Talvez lhe caiba bem.
Carrasco: Não majestade. O ódio possui um direcionamento, uma origem, um propósito. O que sinto é mais contundente, e o sinto o tempo todo. Não é poético e nem divino. Mas sim mundano.
Rei: Por alguém especial?
Carrasco: Por quase todos. Quase não há distinção dentre aqueles que compartilham a negação de suas virtudes.
Rei: Ah, pois bem, isso tem um nome. Chama-se Misantropia e configura-se no desprezo pela própria natureza humana. E é mais comum do que pensas.
Carrasco: Deve de ser mesmo, pois a vejo em mim o tempo todo.
Rei: Como assim?
Carrasco: Oras, sou um carrasco. Escolhi matar pessoas...
Rei: Então mata aqueles que odeia...
Carrasco: Pelo contrário, Vossa Graça. Procuro matar apenas aqueles por quem nada sinto...
Rei: E os que odeia? À que destino reserva?
Carrasco: Reservo o mesmo destino que a vida reservou para mim: o definhar em desgosto de odiar a si próprio.
Oi, gostei do sentido que fez esse sentimento do Carrasco. Achei interessante.
ResponderExcluirBem legal...
Ah, me chamo Aline Calvet, também sou escritora, adicionei você no orkut como uma maneira de começar uma amizade produtiva, espero que consiga. Meu nome no orkut é Lih Assamite.
Abraços.