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23 abril, 2014

Palavras

Achei que tivesse esquecido como escrever.

O passar dos dias, tão iguais, me endureceu para as palavras.

Vejo-as distantes, como um vislumbre dos brilhos e fulgores que adornam o céu após o entardecer. Mundos antigos, com suas próprias histórias contidas em pouquíssimos sons.

Tão gastas e usadas, tão carentes de um foco e precisão, que acabam por tornar-se únicas.

Não foram as minhas palavras que se esvaíram. Mas as filhas da poesia. As notas com as quais eu ousava compor poucos e estimados sonhos. As lágrimas e dores tecidas em poucas cartas de amor. Quem dera tê-las escrito mais, ou com a paixão com as que deveria tê-las encharcado. Quem dera tê-las amado plenamente.

Foram as cores com as quais pintei retratos de sonhos. Paisagens oníricas de uma mente vivaz e desprendida das amarras de um mundo crível. Meu sonhar abstrato era tão doce e caótico o quanto algo proibido deveria ser. Ainda assim, nenhum deles tivera um fim. Quem dera tê-los finalizado, como quem termina uma lenda épica enfeitada com epígrafes e nostalgia.

Foi a música que nunca soube tocar, e as cordas de uma realidade que a mim soava tão musical quanto a mais bela e imperfeita sinfonia. Quem dera ter ouvido mais. Ter bailado sob os significados e neologismos tão próprios e profundos, que poucas delas soariam reais fora do meu contexto pessoal. Fora de mim.

Quem dera ter publicado um ou dois ou todos os livros. De poesia e contos, de crônicas e delírios. Livros com espaços vazios entre as ideias, eras e outras banalidades. Livros sobre mundos e suas conexões, sobre esquinas. Tomos intermináveis, poesias de poucas linhas, agradecimentos e notas explicativas, cada qual uma obra por si só.


Queria ainda ter o que dizer.