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31 janeiro, 2013

Ensaios sobre a Sujeira - A Atriz

- Verdade que seu sonho era ser atriz?
- Ahãm. Era sim.
- E por que desistiu? Você fala bem... E é bonita. Devia ter tentado a carreira.
- Não, não tinha futuro nisso não. Eu até tentei, mas...
- Mas...?
- Foi meio broxante, sabe? Só putaria nesse meio. Muita sacanagem! Viado e vagabunda em tudo que é lugar, cada festa uma orgia.
- Humm...
- Mas assim, não era legal, saca? Nada de amor pela arte, nada de gente bonita naquele glamour erótico. Era algo bem mais visceral, sujo. Parecia pornozão de internet.
- Não pensei que fosse tão assim.
- É... Não é em todo lugar, mas dei azar pra isso. E daí se você não se empenha te cortam as asas.
- Desistiu cedo? Podia ter tentado outra cidade, sair do Rio e ir pra São Paulo. Sei lá...
- Ah, não valia. Teatro e tv tem podreira do mesmo jeito. Tem muita gente legal, claro. Mas quem manda nessa área é tudo canalha.
- Então largou mão logo de cara?
- Fiz uns testes. Fui bem, até. Gostava de decorar textos, ficava me imaginando fazendo filmes.
- E o mercado, te decepcionou?
- Nem foi. É que quando eu estava prestes a conseguir um papel prum filme que ia sair, o diretor tentou me comer. Teste do sofá mesmo! Ou dava ou caía fora...
- E o que houve?
- Ah, duas semanas depois o filme foi cancelado. O orçamento era alto demais, parece que tinha dedo sujo de político no meio, desviando grana. O de sempre: alguém enfiou dinheiro no bolso e sumiu.
- E parou por aí?
- Não. Tentei novela. Se não rolava filmes ia insistir em tv... Minha família apoiou.
- E aí?
- Dessa vez foi uma mulher. Velha e sapata. Autora da novela, só não rola falar o nome...
- Ficou afim de você?
- Queria só meu corpo mesmo. Disse que eu era linda, que não se esfregava em ninguém que nem eu fazia um tempão. Senti nojo só de ouvir.
- Daí não rolou? Claro...
- Novela não era minha praia mesmo.
- Então desistiu...
- Ainda não, acredita? Foi depois disso que corri atrás de teatro.
- Amor pela arte? Achei que num momento desses já tinha perdido o tesão pela carreira.
- Ah, teatro é teatro, né? O primeiro e último dos palcos vai ser do teatro. Achei que ali ia ter sorte.
- E desta vez? Deram em cima de você de novo? Um cara ou uma mulher?
- Um nada! Foram quatro caras! Dois eram bichas e outros dois queriam me pegar no meio da suruba.
- Nossa!
- Nem me fale... Imagina como me senti...
- Eles eram importantes lá dentro? Digo, os quatro... Tinham poder pra te boicotar?
- Não muito. Mas podiam espalhar coisas, inventar histórias. Nesse meio você se queima muito fácil, sabe? Ainda mais se o boato sai da boca de gente carismática.
- Entendi. Não tinha mais pra onde correr...
- É. Foi bem isso. Aí larguei esse sonho de ser atriz!
- Que pena.
- Nada... Tá tudo bem. Serviu pra eu aprender mais sobre mim mesma.
- Mas ainda assim é uma pena! Ser assediada várias vezes, ter que fazer sexo com gente estranha, negar oportunidades que podiam mudar sua vida.
- Como assim?
- Ué, você não disse que tinham tentado te comer pra você seguir na carreira?
- E...?
- Você não deu, deu?
- Claro que dei!
- Mas... Mas eu pensei que... Que você tinha negado...
- E perder todas aquelas oportunidades?
- Mas então por que desistiu da carreira? Você não havia dito que desistiu?
- E desisti mesmo!
- Por que?
- Como eu falei antes, aprendi mais sobre mim mesma. Encontrei minha vocação.
- Qual vocação? Se você não é atriz, é o que?
- Puta!
- Aahh... Entendi... Bom... Já que tocamos nesse assunto... Quanto você cobra?
- Depende. O papel é pra filme, tv ou teatro?

27 janeiro, 2013

Anabela




Os dois prostraram-se diante da parede rabiscada e ficaram em silêncio por alguns instantes, de mãos dadas. A menina, em sua curiosidade, se adiantou.

- O que há por detrás da porta, tio? - perguntou Anabela.
- O que você gostaria que existisse, Ana?
- Posso escolher? Sério que posso escolher?
- Sim! E o que vai ser? Flores em um belo jardim? Bonecas maravilhosas que dançam e falam? Um cachorro enorme de pêlo dourado?
- Não, tio! Isso não! - respondeu Anabela. - Atrás da porta tem que ter pessoas...

Oswaldo sorriu. A resposta não era exatamente o que esperava, mas estava tomando um rumo interessante.

- Que tipo de pessoas, Ana? - perguntou rindo.
- Pessoas cegas, tio. E baixas. E de voz suave, que nunca se altera. E elas também são todas cinzas.

O sorriso do tio murchou com as palavras da sobrinha. A boca se apertou em um esgar de preocupação e perplexidade.

- Cegas? Que tragédia menina! Por que cegas? E cinzas? Por que deste jeito?

Ana olhou para os próprios pés, segurando as duas mãos para trás do corpo. O tom de voz do tio lhe intimidara e seu olhar pesou sobre si com repreensão. Mas ela sabia exatamente o porquê de ter dito aquilo. Sabia que suas pessoas perfeitas eram a coisa certa a existir.

- Porque elas seriam felizes tio. Cegas, nunca saberiam se são diferentes ou iguais. Não enxergariam que são feias e que não são como nós, e mesmo que enxergassem a si mesmas isso não mudaria sua cortesia. Pois a voz seria gentil e a cor da pele não importaria.

O adulto engoliu a seco. O semblante austero, os olhos tristes. Lambeu os lábios ressecados e piscou com um pesar demorado. Luzia luto em seu coração.

Na imaginação da criança onde deveriam haver flores e cores, perfumes e sonhos, morava um vislumbre enevoado dos horrores do mundo. Pessoas cinzas, cidadãos cegos, um povo que não pode e não deve expressar o que sente, apenas para não ferir. Seriam capazes de fazer o mesmo sem tais condições impostas?

Os pensamentos pairavam como uma nuvem de chuva noturna e fria sobre Oswaldo, quando Anabela o interrompeu.

- E você, tio? O que queria ver por detrás da porta?

A resposta veio automática. Com um amargor perene disfarçado pelo carinho doce que sentia pela sobrinha.

- Uma mesa com desjejum, Ana. Como a que nos espera em casa! Vamos! Chega de delírios por hoje.

E partiram.

21 janeiro, 2013

Os lugares mais perigosos da Terra

Vídeo muito interessante sobre as taxas e condições de mortalidade dos locais mais perigosos do planeta. Afie seu inglês e aperte play.

20 janeiro, 2013

Trecho de Livro

"Ele havia criado uma raça à sua imagem e semelhança e, então, condenado-a ao extermínio. Mas ele não era mal, não podia ser mal. A maldade era falha e seus atos, em seu próprio julgamento, justos. 

Afinal, se era deus de seu domínio ele podia tudo. E assim escolheu não estar errado e ser absolutamente perfeito."

- O Terminal

Frase da Semana

"Com um mundo inteiro girando lá fora, ficar parado no mesmo lugar é o mesmo que estar morto."

17 janeiro, 2013

Trecho - Canção da Eternidade

"Dizem que se você ficar quieto por tempo o suficiente será capaz de ouvir o som que ecoa no silêncio. Os raapas chamam esse som de Canção da Eternidade, e dizem que é o eco das palavras onipotentes utilizadas por Deus na criação do mundo, reverberando pelo infinito até o final dos tempos.

Eu sempre encarei isso como uma lenda antiga. Mas mais de uma vez, em momentos de reflexão, após meses sem pronunciar uma única palavra, me encontrei em uma espécie de transe sem início ou motivo. Embalado por uma melodia inaudível e impossível de ser descrita.

Estes momentos sempre vinham acompanhados por períodos de epifanias e frenesi criativo, como se eu fosse tocado por algo grandioso e sutil, instigando a ultrapassar meus limites enquanto humano. Mas após estes transes só o que me restava era a sensação de insignificância e a certeza de que toda minha existência não passa de uma mera nota distoante no corpo daquela canção."

- Delírios ao Amanhecer

09 janeiro, 2013

Cá Entre Nós - Os Bastidores do Reino de Bundhamidão

O documentira sobre o  livro que virou o maior sucesso do mercado nacional de jogos. Ou não...




Compartilha aí se acreditou na mentira por ao menos 1 segundo! =]

Delírios

A menina debruçou-se na beirada do poço e pôs-se a fitar a escuridão do fundo.

- Tem alguém aí? - perguntou.
- Ainda não! Mas logo terá... - sussurrou o poço em resposta.

- Medo do Escuro

08 janeiro, 2013

Poesia - Duas

Às minhas pentelhas de plantão: Mallu Agneau e Morgana Patrocínio, homenageadas por essa poesia improvisada de tanto me incentivar (torrando a paciência)... Adoro vocês! =]

Conheço duas meninas que não param de me atazanar,
uma mora perto do rio, a outra na beira do mar.

A mais velha só vi uma vez, a mais nova nunca conheci,
mas anseio, por mais que demore, poder abraça-las assim que as vir.

Uma vive de mau humor, a outra sorri em carinho,
a ranzinza me empurra pra frente, a feliz me mostra o caminho.

Ambas são, cada qual ao seu modo, fontes de luz e de fé,
e ambas dizem ser fãs do Astronauta das Marés.

Olhe só que balela, e que mentira deslavada!
Belas e espertas garotas... Gostando das coisas erradas!