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27 agosto, 2014

Encontros

A primeira vez em que a vi foi em um sonho de anos atrás. Muito, muito antes do nosso terceiro e derradeiro encontro, pessoalmente. E por mais que minha memória embace os detalhes de seus traços, eu sei que era ela.

No primeiro sonho ela vinha até mim, como se me conhecesse de muito tempo. Estávamos os dois em um ônibus, sentados lado a lado - ou em pé, próximos... não importa - e foi ela quem falou comigo. Disse trivialidades, sorriu e riu. Me inundou com o sol em seus cabelos e afogou com o azul cristalinos dos olhos. E me marcou pra sempre com o único elemento nítido do sonho de quase 4 anos atrás:
"Até que enfim você me achou! Faz tempo, heim?"

O resto do sonho não importa agora e creio que não importava na época. Ela surgiu e disse ao que veio. Me marcou. Mostrou que existia. Minha dama onírica.

Dois anos depois ela apareceu outra vez. Estávamos em um casamento, novamente em um sonho. Vestida de branco, ela reforçava ainda mais a luminosidade da pele e da face. Mas para o meu absoluto alívio, não era ela a noiva. Embora estivesse acompanhada.
"Oi. Lembra de mim? Do ônibus!"

Sim, eu lembrava. Claro que lembrava. Nunca lembrei com tamanha nitidez do perfume de alguém que nunca habitou meu mundo desperto. Meu delírio íntimo e utópico. De seios fartos e ombros perfeitos.
"Pois é... Estou namorando. Você tá sempre com alguém, então não pude esperar... Mas quem sabe um dia..."

Eu não a pude odiar mesmo após ouvir isso. Ela estava certa, eu sempre tive alguém. Meu anjo de duas asas direitas, de pele cinza e olhar triste. A pessoa que eu precisava libertar e que sofrera por minha causa sem que eu jamais entendesse o início de tudo. O amor que não era paixão, mas sim um misto incompreensível de zelo, compaixão e sofrimento. Não era a hora.

E o sonho rodopiou e esticou e sumiu. E as lembranças ficaram.

Depois vieram outros anos. Pesadelos com conflitos, perdas e becos sem saída. Certezas de adulto e medos de menino. A minha inalcançável Esquina e seu poste unificador de mundos. Os males do dinheiro e a sede por luxúria. O temor de estar sempre errado e o silêncio derradeiro da voz interior, como se Deus tivesse ficado quieto.

Vieram coisas, sim. E dentre elas os riscos tomados voluntariamente. Alguns pensados, outros totalmente impulsivos. Formas de encontrar a mim mesmo. O Solar. Meu labirinto pessoal e fonte de luz incomparável. Signo.

E, quando tudo parecia apenas uma memória pálida, forçosa apenas nas raríssimas perguntas sobre os sonhos mais estranhos que já tive, ela ressurgiu. Definitiva - assim espero - e encarnada.

Fui eu quem a abordei dessa vez. Digitalmente. Eu quem cheguei e provoquei, como um louco com falas ensaiadas de um monólogo que nunca funcionaria à dois. Mas a peça foi perfeita. E embora ela não tenha me reconhecido, eu a vi como ela era.

Seu cabelo, naturalmente dourado, estava rubro. Os olhos mantiveram-se fiéis, tal qual o aroma. A idade mais tenra - algo inesperado, mas intrigante. A voz e a fisionomia, que outrora foram fantasmais e indefinidas, me pareceram familiar. E isso bastava. Este novo sol não era perfeito e nem simétrico, mas ainda assim brilhante o bastante para ofuscar e esquentar todas as imperfeições desnecessárias. Ela era o meu Solar. A luz, a casa, o agir sozinho acompanhado.

E nesta terceira vez nós saímos juntos no mundo real. Senti seu beijo, inventei motivos desnecessários para me recostar nela e tocar sua mão. E eu a vi por inteiro pela primeira vez, morrendo de medo de ser apenas um sonho.
"Você não é real..."

E talvez ela não seja. E talvez eu sofra como um desgraçado por encarar o sol onírico pessoalmente na vida desperta.

Mas desta vez eu não ligo. Dormindo ou acordado, esta não é uma época de noite e de pesadelos.

Espero que este dia brilhe como um solstício de verão.

11 agosto, 2014

Mimese

Havia, naquela cidade chamada Londrina, um autor que nunca terminava nada do que

08 agosto, 2014

Techo Solto

"E na terceira noite de solidão, alçou voou pela noite cinza. Vislumbrando tocar estrelas e desfazer-se de memórias mofadas. Tão insólito e fascinante quanto um zeppelin de Lázaro."