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21 outubro, 2012

Essência

Carregue o vídeo e ouça lendo.



Então começou. Tão breve e silencioso como um momento não notado. Inexorável. Os dedos encostaram o teclado, com o mesmo vigor e ritmo com que seguravam o lápis, e as palavras surgiram. Naturais como o respirar não percebido. Plenas.


Em meio à mente, de olhos fechados, ele sentiu a música das próprias idéias ecoarem. A cada letra um infinito se abria. Cada palavra uma realidade, mundos colidindo. A eternidade descrita em segundos de registro. Mesmo pequenas e limitadas, suas obras eram pedaços derramados de si. Daquilo que ele vive, do que é. Oxigênio interior.

E o céu caiu, e vulcões surgiram, e feras nasceram, e reinos caíram, e amores viveram, e deuses sorriram, e o final foi feliz, e súbito e trágico, e completo. E assim nasceram sonhos...

Porque sua música, suas telas e tintas, suas esculturas, seus projetos e seus cálculos eram traduzidos por palavras. E ele nascera um escritor.

03 outubro, 2012

Poesia - Não mais

Momento de inspiração completamente sem motivo gerou isso. Espero que alguém goste.


Aí você vem,
e como quem não quer nada, se intromete onde não é bem vinda e brinca com perigos trancados,
e some.

Aí você ri,
e como quem não sabe fingir, se enlaça na ironia de dizer que busca o amor que tanto lhe foge,
mas não olha pra mim.

Aí você chora,
e como quem nunca sorriu, se faz sofrer na eterna dor pungente do amar quem não vale a pena,
sozinha.

Aí você morre,
e como quem nunca gritou, martela em meus sentidos o pulsar incessante de sua existência ilusória,
enquanto eu te esqueço.

Aí você volta,
e como quem nunca me interessou, se maquila de coisa e passa a figurar no meio comum e sem graça,
por eu não te querer mais.

Aí, enterrada na própria vaidade e enfeitada pelo desprezo que tenho de tudo aquilo que é banal,
como quem nunca foi nada além do simples e do igual, como boneca em linha de montagem,
você passa a me querer.

Tarde demais, amor. Não te amo mais.