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21 novembro, 2014

Perguntas

- Quando foi a última vez em que você aprendeu algo novo? - perguntou Anabela à tia.
- Todo dia eu aprendo algo, Ana. Um prato novo na revista de receitas, uma notícia no jornal, uma fofoca da vizinha. Por que?
- Não, tia! Algo novo, novo. Uma coisa nova... Quando foi a última vez em que você jogou fora alguma coisa velha de você mesma e trocou por algo novo?
- Ah, esse tipo de coisa... Não sei. Não faço ideia. E não me pergunte esse tipo de coisa, faz com que eu me sinta burra - enrispideceu a tia.
- Mas isso é ruim? Sentir-se burra... Achei que isso fazia ficar incomodada com as coisas e jogar as certezas fora. Aprender coisas novas, tia. Saber que a senhora é burra vai te ajudar a ficar mais inteligente.
- Fique quieta, Ana! Ou eu mesmo te dou umas cintadas! Isso é modo de falar com alguém mais velho?

Anabela recuou. Os olhos arregalados. A boca trêmula. Não queria apanhar e não entendia o porquê de tamanha aversão às suas perguntas. Aprender era algo bom, ninguém seria burro se largasse a burrice pra trás e abraçasse novas ideias.
Naquele momento Ana aprendera.
Deixou para trás a ingenuidade das perguntas curiosas e as substituiu pela necessidade da dissimulação velada. Entendeu que não eram as suas perguntas que machucavam as pessoas, mas sim as respostas delas mesmas que as feriam.
E então, ficou em silêncio.
- Anabela e o Mundo