Mais uma brincadeira com teatro, parte da mesma trama que apresentei na postagem anterior. Desta vez o diálogo entre o Rei Condenado e o Duque do Pecado.
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Duque: E onde estão seus
irmãos?
Rei: À quais deles se
refere?
Duque: Aos que compartilham a
mesma linhagem que sua descendência. Aos não bastardos.
Rei: Não sei. De certo
estão vagueando no ímpeto cego de ampliar a prole. Com eles pouco
tenho em comum que não o sangue.
Duque: E a quais outros mais
o termo abrange?
Rei: Os demais, do tipo que
tive a chance de escolher. Imaculados pelos vícios que esta cabeça
coroada herdara. Do tipo ao qual o termo se refere veladamente.
Duque: E donde vagam?
Rei: Certo distam, posso
afirmar. Mas não sobre a terra. Distam no tempo. O último há mais
tempo do que gostaria de lembrar. Impossível encontrar-lhes mesmo na
poeira da carcaça de gusanos. Resquiem-se em livros, ou cânticos...
Ainda que ambos não façam jus ao esquecimento que tenho deles.
Duque: Por que lhes fazem
falta?
Rei: E não é claro?
Duque: Não...
Rei: Fato que não o é. E
fato que não sei bem o porquê. Esperava que em parte alguém o
soubesse. Como homens e mulheres fomos sempre tão diferentes, nunca
houve um motivo semântico para tal afinidade. Mas como crianças
seguíamos o mesmo ideal. E antes que perguntes-me, digo: o ideal do
questionamento. Da mudança. Do não se acalentar com a rasura da
razão. Éramos iguais em sede de revolução. Sonhávamos, devo
dizer, com mundos perfeitos e povos instruídos; mas não sem amarrar
os sonhos em ancoradouros de trabalho e parcimônia. Buscávamos o
poder para implodir regimes e reconfigurar ideias.
Duque: E o que mudou?
Refere-se a eles como outrem, num passado remoto, hoje distintos de
si. A identificação com o passado faz de seu discurso vago...
Apegado à uma paixão encarvoada.
Rei: Mudou que todos
morreram. E a cada morte encarnada também desvaneceu uma ideia.
Duque: Cansou de buscar
respostas?
Rei: Não. Cansei de fazer
perguntas.
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