Desde que li, pela primeira vez, sobre os 50 de Fukushima, há duas semanas atrás, pensei muito sobre como os exemplos dos outros seres humanos nos influenciam no dia a dia. Hoje resolvi pesquisar mais sobre este conceito, que tanto abrange nossos sonhos infantis, quanto nos serve de ideal para realizar um mundo melhor no futuro: nossos heróis.
Herói - Segundo o dicionário virtual, Uol Michaelis, a palavra herói (sm) deriva do grego héros, e serve como uma denominação para os descendentes dos deuses e semi-deuses do período pré-homérico.
O mesmo termo, no entanto, também serve para designar os indivíduos que ficaram eternizados na história após cometerem um feito de sacrifício e provação em busca de um grande feito.
Por fim, uma outra interpretação abrange todo indivíduo que se destaca dos demais conterrâneos ao tornar-se o protagonista de uma determinada história, ou por possuir algum tipo de habilidade que o distingue dos demais.
Estas são definições etimológicas e com base literária, mas se analisarmos através da sociologia e da semiótica, podemos encontrar algumas informações ainda mais pertinentes sobre este conceito.
São eles:
O Herói de Guerra
Este talvez seja o arquétipo mais associado ao conceito de heroísmo na sociedade moderna. Devido à influência da cultura norte-americana sobre o mundo, explicitamente belicosa graças à suas origens anglo-saxônicas, e a popularização dos elementos de sua cultura, a sociedade moderna associou a figura do herói ao indivíduo que confronta os "inimigos da nação" em busca de um ganho maior para o seu próprio povo.
Este traço em particular é facilmente notável tanto no forte apego dos estadunidenses para com seus militares, sempre encarados como lutadores da justiça e da paz (mesmo que dentro de um ideal deturpado e alienado de maniqueísmo), como na cultura pop americana: filmes, quadrinhos, jogos de videogames, músicas e propagandas anti-terrorismo.
Apesar de resgatar a ideia original de que o indivíduo que se torna um herói é aquele que confronta as ameaças de sua nação/crença/ideal político, este tipo de caracterização é perigosa, pois tende a ser unilateral e a encarar todos aqueles que não se encaixam no arquétipo como inimigos a serem combatidos.
O Representante de Interesses
Categoria onde se encaixam a maioria dos representantes políticos e econômicos que promoveram algum tipo de benefício para um grupo de indivíduos. Neste caso, aqueles que foram beneficiados pelas medidas adotadas, tendem a defender e idolatrar (mesmo que de forma meramente ilustrativa) os representantes de seus interesses.
Um exemplo clássico é o caso do ex-presidente Lula, no Brasil. Que tornou-se um representante mundial da política de subsistência das camadas sociais mais pobres, tento estas iniciativas bons resultados à longo prazo ou não.
Nestes casos, entende-se por herói aqueles que toma as iniciativas que atendem (ou pretendem atender) os interesses daqueles que não possuem poder ou influência para alcança-los. Infelizmente, apesar deste arquétipo muitas vezes ilustrar pessoas reais, tal transposição de responsabilidade pode acabar por relegando toda a responsabilidade de mudança social para um único indivíduo, desmotivando as iniciativas coletivas de mudança e evolução da sociedade.
O Exemplo de Ideal
Caso típico dos ícones de idolatria adotados por religiões e cultos religiosos. Este arquétipo abrange os indivíduos (ou forças ideológicas) que representam a máxima de um determinado conjunto de crenças e/ou dogmas.
Os casos mais famosos são os próprios profetas e líderes das grandes religiões, como Cristo, Maomé e Buda, que reúnem todas as virtudes necessárias para ilustrar o ideal defendido e disseminado por suas respectivas religiões e seguidores.
Neste caso, o herói é aquele que personifica os exemplos de qualidades à serem seguidas por aqueles à quem inspira. Ele se torna um exemplo de perfeição. No entanto, apesar de esta ser supostamente uma boa característica, este tipo de herói acaba por criar um afastamento de sua imagem para com seu público, uma vez que seres humanos comuns são passíveis de falhas e desvios de comportamento.
O Humano Estóico
Por fim, o tipo mais plausível de herói é aquele que abrange o conceito de sacrifício individual, para o bem coletivo, sem que haja o conflito com seguidores de outras doutrinas, sem que este reúna qualidades virtualmente impossíveis para um ser humano, e que seus exemplos sejam facilmente praticáveis por qualquer indivíduo com uma certa dose de coragem e/ou determinação.
Nesta categoria, em geral, incluem-se os líderes familiares e/ou comunitários que mobilizam a si mesmos e àqueles sobre quem tem influência a modificarem sua realidade particular de forma construtiva.
Um exemplo prático, e deveras emocionante, pode ser observado atualmente com o desastre nuclear japonês, conseqüência do tsunami causado por um terremoto, no dia 11 de março de 2011. Após a destruição de alguns reatores nucleares da usina de Fukushima, o governo tenta desesperadamente conter os vazamentos atômicos, afim de minimizar os efeitos de uma catástrofe iminente.
Em meio à esta tragédia um grupo de trabalhadores, denominados como "Os 50 de Fukushima", estão trabalhando incessantemente para conter o vazamento dos reatores, utilizando as medidas necessárias para que a radiação não se espalhe ainda mais pela região.
Estes homens, que não são exatamente 50 mas cerca de 70, sabem que possuem chances altíssimas de morrer ou de ficar permanentemente doentes graças aos níveis letais de radiação que se submetem diariamente, mas mesmo assim continuam a trabalhar. Sabem que se ninguém se submeter à este trabalho, em breve uma tragédia maior pode vir a ocorrer, prejudicando seu país, suas famílias e sua sociedade de um modo geral.
Este é um tipo de sacrifício que há muito não se noticiava de forma tão imediata e visível na história da humanidade. Seria este, portanto o tipo de herói que precisamos? Aqueles dispostos a dar seu suor e sua vida para salvar não um ideal, e nem para matar seus adversários, mas sim para proteger seus iguais.
Os 50 de Fukushima, como seres humanos, não são um exemplo de perfeição, mas sim uma perfeição de exemplo. Heróis de carne, ossos e virtudes.
Se existe uma forma de lembrarmos de heróis como estes, tenho a liberdade de parafrasear Winston Churchil, dizendo: "Nunca tantos deveram tanto a tão poucos."
Opa! Que maneiro! Gostei do texto Matheus, principalmente do "O Exemplo de Ideal"... =D
ResponderExcluirAbraço.