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07 agosto, 2010

Entrevista - Criadores da RPG Magazine


Salve leitores do Astronauta. Neste post, dedicado aos nossos amigos nerds-rpgistas, traremos uma entrevista com os criadores da revista digital RPG Magazine, Arturo "Orc" e Luiz "Thor". O foco da conversa é sobre o mercado de rpg no Brasil e sobre a nova iniciativa da dupla - uma ambientação de jogo chamada Flagelo, que promete mudar o panorama nacional deste hobbie.

Astronauta das Marés: Com tantos cenários de RPG no mercado, o que levou vocês a criarem um novo mundo? Ainda existe espaço pra mais um mundo de fantasia no mercado nacional?

Thor: Essa é uma tese que foi criada não sei por quem, que diz que o mercado ta saturado, essa frase ficaria mais completa se colocarmos a frase: “...de produtos ruins e repetitivos”. Sempre haverá mercado para quem sabe trabalhar (e quer trabalhar), tem cidade que tem na mesma rua 5 farmácias, e todas andam cheias, o x da questão e o diferencial, preço qualidade e inovação.

Orc: Se pensarmos em questão de mercado, o RPG brasileiro tem muito poucos cenários de campanha. Fora Tormenta, que fez muito sucesso pela Dragão Brasil e Dragon Slayer, não há muitos cenários de expressão em nossa terra. Claro que você tem as traduções, tem Forgotten Realms, Ravenloft... mas com o fim do d20, muitos destes cenários clássicos de RPG foram fadados ao esquecimento. Ravenloft, por exemplo, foi “descontinuado”.
A idéia por trás do Flagelo é criar não só um cenário de RPG, mas um universo para diversas mídias. HQs, mangás, videogames, animes, RPG, card games... quantas coisas não podem ser feitas em um bom cenário. Veja Star Wars, por exemplo, começou como um filme despretensioso, feito por alunos de cinema e dirigido por um George Lucas em início de carreira... hoje é um universo imenso, com ramificações em várias mídias. O mesmo pode ser dito de Warhammer 40k, que começou com um jogo de tabuleiro e em 2011 ganha seu primeiro filme. Gosto de pensar grande sobre o Flagelo, é um cenário muito vasto, com muito potencial.

AM: Qual a premissa básica de Flagelo? O que diferencia o cenário dos outros mundos de fantasia?

Thor: Flagelo não e um mundo de RPG comum, um cenário muito parecido com o nosso mundo, seja ideologia, seja nas guerras, seja na forma que tira recursos do planeta. Acredito eu, que o grande diferencial do cenário não seja salvar o mundo de dragões mais de seres humanos, não de guerras mas da destruição do ecossistema.
Antes que alguém pense Flagelo não é Lobisomem o Apocalipse de magia... como diria no rio de janeiro, “o bagulho aqui e doido” e outro ponto que devo lembrar e que não somos ativistas ecológicos, mas pessoas que querem usar o Lúdico do RPG pra lembrar aos jogadores que nosso mundo passa pela mesma situação. Acho que esse é o diferencial.

Orc: Primeiro, Flagelo não é um cenário tradicional de fantasia. A idéia foi torná-lo inovador, incorporar tecnologia, magia e elementos atuais em um cenário medieval. Originalmente eu pensava em algo no estilo dos desenhos de “tecnomagia” dos anos 80, como He-Man, She-ra e Thundercats, onde você tem espadas ao lado de armas laser, naus voadoras lutando contra cavaleiros, essa salada toda. Quando joguei Final Fantasy XII pela primeira vez, pensei “Nossa, é isso que eu quero no Flagelo!”.
A “tecnomagia”, ou “High Fantasy” como é conhecido lá fora (mistura de High Tech com Fantasy) é um gênero pouco explorado no RPG. Fora Eberron, é difícil encontrar outros cenários assim.

AM: Quais foram as inspirações para o projeto?

Thor: Muitas, de Crônicas de Nárnia a Conan, passando pelo futurista Final Fanstasy.

Orc: O Thor gosta muito de Nárnia e Tolkien. Eu particularmente não gosto. A minha idéia foi se basear mais em fantasia medieval “hardcore”. Procurei trazer muitos elementos de Robert Howard (Conan, o Bárbaro; Red Sonja; Solomon Kane; Kull, o Conquistador), John Norman (World of Gor), Frank Herbert (Dune), Howard P. Lovecraft (Necronomicon, O Chamado de Cthulhu), Rick Priestly (Warhammer 40k) e Sir Arthur Conan Doyle (Sherlock Holmes, O Mundo Perdido).
É uma questão de gosto. Tolkien gasta cem páginas detalhando o amor casto e amigável entre Frodo e Sam, Robert Howard gasta as mesmas cem páginas com ruivas esculturais semi-nuas arrancando tripas de dragões.

AM: Com a "Era D20" dando sinais de desgaste, e o mercado absorvendo novos materiais (como o sistema True 20, D&D 4E e a recém anunciada tradução de GURPS 4E), anda sendo difícil escolher um sistema forte para se desenvolver um novo produtos. Que sistema o cenário vai utilizar?

Thor: Boa pergunta. Acreditamos no True 20, com uma mistura do Pathfinder.

Orc: Bem aí está o problema que andou atrasando o lançamento de Flagelo. O material foi desenvolvido para d20, e estava prontinho para ir ao forno quando a Wizards of the Coast resolveu cancelar a licença d20 e lançar o D&D 4ª Edição. Para aproveitar material, vamos adaptá-lo para sistemas OGL que estão em alta atualmente. True 20 chegou no Brasil com Mutantes e Malfeitores e BESM, e Pathfinder está fazendo sucesso lá fora como o “sucessor espiritual do 3D&D”. Como ambas as licenças são Open Game e não tem nenhuma cláusula proibindo o uso de outra licença no mesmo produto, estou pensando seriamente em lançar Flagelo para ambos os sistemas...
O ideal mesmo é a criação de um OGL novo. Temos um projeto para um sistema chamado H20 (Herói 20), que seria o sistema “padrão” de Flagelo, mas isso depende muito da aceitação do mercado em relação a sistemas OGL novos... Ele pode se saturar rapidamente com pretensos “sucessores” do d20...

AM: Que novidades conceituais os jogadores podem esperar de Flagelo? Digamos... O que deve fazer os fãs ficarem ansiosos pelo material?

Thor: Poder, poder, poder....(risos) Acho que a novidade seria o uso da biomana.

Orc: Além de ser um cenário High Fantasy, gênero pouco explorado, Flagelo ainda conta com uma característica que eu julgo muito importante. Não há nenhum “lado mal” ou “lado bom” neste mundo. Cada nação, facção, povo e raça está certa de seu ponto de vista, e tem motivos para fazer o que fazem. Nunca gostei desta polarização “bem” e “mal” em cenários de RPG ou de qualquer outra mídia, isso tira muito da verossimilhança com nosso mundo, dá um aspecto muito artificial ao cenário como um todo.
Esta abordagem já foi usada com sucesso em Warhammer 40k, e creio que é uma forma divertida de dar mais opções aos jogadores e maior flexibilidade ao Mestre. Flagelo também tem um nível de detalhamento de fazer inveja a Tolkien. Pensamos em praticamente tudo o que você precisa saber sobre as nações e regiões deste mundo, os suplementos sobre elas são quase como guias de viagem, tem desde expressões nas línguas de cada povo até notas sobre impostos, compra de casas, imigração, esportes nacionais, feriados... A quantidade de ganchos para aventuras, e material para os jogadores, é enorme. É um cenário muito rico, feito com muita dedicação.

AM: Que elementos da fantasia clássica estão presentes em Flagelo? Quais raças, monstros, arquétipos, etc?

Thor: As raças básicas, com elementos diferenciais, Elfos e Anões ainda são inimigos, só que agora tem explicação. Ou tinha antes e eu não sabia?! Monstros tem uma coisa legal: bio-mutações. Monstros antigos mutantes, causada pela exposição da biomana.

Orc: Depende do que você chama de “fantasia clássica”. Se estamos falando de Tolkien, bem, temos algumas coisas que ele descreveu em suas obras. Elfos, anões, orcs, trolls... Como já é tradição em cenários de fantasia, elfos odeiam anões, elfos vivem em florestas, anões vivem debaixo da terra... São características que vêm desde as sagas nórdicas e germânicas, preferimos não mexer muito nisso. Até porquê ajuda os jogadores a se situarem no cenário.
Logo no início, quando Flagelo ainda era um projeto de dez páginas, eu e o Thor decidimos usar uma abordagem “estilo Eberron”. Se algo existe em algum livro de RPG, existe em Flagelo. Claro que é inútil fazer o contrário, proibir alguma coisa. Se o Mestre quiser, ele pode colocar qualquer coisa em qualquer cenário. Em Tormenta, por exemplo, não existem gnomos, mas eu já vi mestres criarem campanhas no cenário cheias de gnomos. A palavra final é sempre do consumidor.

AM: Em que formato será o livro? PDF, impresso em vários livros pequenos, um único livro grande?

Thor: Um livro básico e suplementos sobre cada raça. PDF devemos colocar as regras para outros sistemas.

Orc: Inicialmente pretendíamos lançar em PDF. Isso barateia muito a obra e ajuda a distribuí-la sem maiores custos. No entanto, cada vez mais a idéia de um livro impresso está se tornando realidade. Provavelmente teremos Flagelo impresso e versões em PDF por preços absurdamente baratos.
O livro “básico” não tem quase nenhuma regra. Ele é 95% descritivo, contando a história do mundo do Flagelo, suas nações principais, raças, tecnologia, ecologia e relações diplomáticas. Além dele, serão lançados também suplementos, bestiários e guias para classes, nações e facções. O primeiro desses guias já está pronto, sobre uma das nações do mundo. Outros já foram iniciados, e logo estarão prontos também.

AM: A RPG Magazine vem se mostrando uma publicação forte e bem lembrada pelos rpgistas brasileiros, e atualmente é uma das únicas revistas especializadas do país (sendo a maior online). Que dicas vocês dão para quem quer entrar nesse meio de criação e publicação de RPGs?

Thor: Façam... errem.... não desistam. Foi assim com agente. Para chegar onde estamos nos pelejamos erramos acertamos erramos de novo. Hoje se tem a idéia de tudo tem no blogs, Acho que a revista e uma reunião de talentos e matérias especialmente feitas, quem sabe voltemos a época de varias revistas online de novo?!

Orc: Nossa! Verdade?! É muito bom saber como anda a opinião das pessoas sobre a RPG Magazine. Só lamento ela não ser ainda melhor =D
Para entrar no mercado... hummm... deposite todo o seu dinheiro na minha conta, todos os meses. Brincadeira. Antigamente você dependia de muita infra-estrutura, hoje, com a internet e as redes sociais, basta uma idéia na cabeça, um computador na mão, muita dedicação, tempo livre e amor à causa.
Acho que o mais importante para uma pessoa que queira escrever RPG é criatividade, e disposição para pesquisa. Para criar o Flagelo, como cenário, tive que passar muitas horas pesquisando sobre política medieval, tecnologia, clima e até astronomia. Como dois sóis influenciariam o clima de um planeta, como se formam continentes, cadeias de montanhas, desertos, o impacto destes locais na cultura dos povos que vivem lá... Se a pessoa não tiver disposição para pesquisar e imaginar respostas para estas questões, o trabalho fica raso, sem graça, incompleto. Pense em quantos cenários se têm nas bancas, locadoras e games todos os anos, agora pense em quais se destacam! Temos centenas de Space Operas, mas só Star Wars é Star Wars.

AM: Por fim, como um leitor interessado pode colaborar com a RM? Existe algum espaço para onde os rpgistas podem enviar seus materiais?

Thor: Sempre tem.... rpgmagazine@gmail.com ou pelo twitter @rpgmagazine.

Orc: Isso não tem muito a ver com o Flagelo, não? Inclusive é importante deixar claro para o leitor da RM que o Flagelo NÃO SERÁ um “cenário oficial” da revista. A RM continuará trazendo material genérico para seu cenário de RPG favorito, seja ele o Flagelo ou qualquer outro.
Na RPG Magazine nós aceitamos todo tipo de material. Novas armas, monstros, NPCs, dicas para Mestres, jogadores, aventuras, contos, adaptações... Pode mandar para o e-mail dos editores (o meu é orcbruto@yahoo.com.br) ou para o da revista (rpgmagazine@gmail.com). O material será avaliado e, se tiver boa qualidade, sairá na revista o mais cedo possível. A RM costuma ter um “tema” a cada edição, por isso se seu material não tiver sido publicado ainda, não se desespere, podemos estar “guardando” ele para, por exemplo, uma edição de Halloween ou de
final de ano.
O Flagelo também aceita contribuição. Estamos com o projeto de lançar uma comunidade virtual chamada “Flagelo Live”, onde os leitores poderão contribuir com o cenário, criando personagens famosos, novos monstros, armas, estabelecimentos comerciais, e até reinos. Meu sonho é ver o personagem de alguém virar rei de algum grande império de Flagelo. É algo inédito, nunca antes tentado em relação a cenários de RPG. Por enquanto, sugestões podem ser enviadas para meu e-mail pessoal ou para o e-mail da revista.

AM: Algum último recado para os fãs?

Thor: Oi mãe... não sabia que a senhora gostava de RPG (risos) . Bom o recado que posso dar é vamos sempre fazer o melhor, porque fazemos o que gostamos. Tchau mãe. Obrigado por ser minha fã!

Orc: Hummmmm... eu diria “divirtam-se”. RPG é diversão, é entretenimento. Tá bom, alguns como o Mini-GURPS tem pretensões educativas, mas a maioria não. Use o RPG como válvula de escape para o stress cotidiano. Enfie uma espada no monstro que é a cara do seu chefe, ou da sua sogra. Isso vai fazer você se sentir melhor. Flagelo é tudo sobre diversão. Não tive qualquer pretensão educativa, moral ou cívica, é uma oportunidade de “viajar” para outro mundo gastando pouco e se divertindo muito!

2 comentários:

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