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23 agosto, 2010

Conto - O Troll da Ponte

Para os meus queridos leitores do Astronauta, segue mais um trecho do meu livro de humor, No Reino de Bundhamidão: Os Confins de Lambródia.


 Como todo bom troll, Félix morava debaixo de uma ponte. Não porque queria. Tampouco por ter interesse em preservar esta histórica tradição de sua raça, mas sim porque estava definitivamente desabrigado e sem rumo.

Há cerca de três anos o troll-ha perdeu seu emprego como vigia noturno de um pequeno armazém de suprimentos do Totem Fumegante. E rapidamente se viu deixando para trás uma vida estável – porém pouco opulenta – para fazer parte de outro nicho social, preocupantemente denominado pelo governo como “índice de desemprego”.

Félix não era mais um trabalhador (mal) assalariado, mas sim uma estatística.

Um fato curioso por trás deste evento, é que embora quase ninguém se desse conta disso, o tal índice que tanto preocupava o governo era justamente um reflexo direto das ações do Triarcado. Para criar novos empregos e arrecadar mais impostos, o governo passou a contratar um número vertiginosamente alto de fiscais e cobradores. Estes eventualmente acabavam fazendo um ótimo trabalho, e por consequência quebravam várias pequenas empresas, sufocadas pela opressiva carga tributária de Bundhamidão. Isso causava ainda mais desempregos, logo, mais fiscais eram contratados pelo Triarcado.

Claro, após alguns meses neste ritmo, o governo finalmente se deu conta de que em breve toda a população economicamente ativa de Bundhamidão seria formada por cobradores, e que no futuro não haveria mais de quem arrecadar impostos.

Vendo que seu esquema brilhante havia falhado, o Triarcado tomou uma sábia decisão: abandonou o programa de geração de empregos e passou a ignorar todos os problemas econômicos da região. Pode-se dizer que este novo plano de gestão está melhor do que o esperado...

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- Pois é... É aqui que eu moro! – disse Félix, com um pavoroso sorriso amarelo estampando-lhe o rosto.

Vicente olhou para Moren 2, procurando algum conselho velado. Mas o anão limitou-se a escarrar educadamente aos pés de Félix.

- Mas que grande merda de lugar! Já limpei fossas mais agradáveis lá no Beco da Bosta! – concluiu, com franqueza.

Por mais estranho que fosse, Félix não pareceu nenhum pouco desconcertado. Na verdade chegou a abrir um sorriso, inspirando um misto de pena e medo em Vicente. Seus dentes, grandes como facas, brotavam da gengiva esverdeada de modo tão aleatório, que alguns pareciam estar crescendo de fora para dentro da boca.

- Pelo menos aqui eu não pago impostos... – disse o troll-ha, em um suspiro – E não é tão ruim depois que você se acostuma com o frio... e as chuvas... e o fedor... e as pulgas... e os assaltos... e os mosquitos... e a vizinhança... – cada item que falava fazia o anão franzir ainda mais as sobrancelhas, e o garoto apertar mais os nós dos dedos.

- ...E os magos também... - concluiu Félix.

Vicente saiu de seu transe momentâneo – Magos? Existem magos aqui perto?

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Curtiram? Não? Tudo bem, não se pode agradar a todos mesmo. Mas se gostaram aguardem, que até o começo do ano que vem estará nas livrarias. =D

Um comentário:

O Astronauta das Marés agradece profundamente pelos comentários de seus leitores. Cada interação do público com o blog me motiva, ainda mais, a postar novidades e escrever textos de qualidade. Obrigado pela força galera.

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