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13 abril, 2010

O Amapá NÃO é uma Abstração

Um certo jornalista (?) de Goiânia, chamado Rogério Borges, publicou em uma coluna do jornal "O Popular" (alguém conhece?) um artigo chamado "Amapá, uma abstração". O texto é um ode à ignorância do próprio autor, no qual ele ironiza o estado e crítica a existência de um lugar "Igual o Saci Pererê... É um mito, uma lenda urbana.". O texto está repercutindo fortemente na internet, para o azar do ignorante autor, que deu um tiro no próprio pé ao publicar tamanha besteira.

Deem uma olhada no artigo:


Depois de ler essa palhaçada, eu não pude deixar barato... Enviei um e-mail para o informadíssimo jornalista - Viram o que dá não haver mais obrigatoriedade do diploma!!! - comentando sobre o texto. Ainda não recebi a resposta, mas espero que seja um pouco mais esclarecida do que o artigo. Quando receber a réplica postarei aqui no astronauta.

Segue o e-mail que enviei:

Seu texto sobre o Estado do Amapá, publicado no jornal O Popular, é uma representação da ignorância e da falta de informação que assola muitos dos ditos "indivíduos instruídos" desse país: um texto preconceituoso, sem o menor conteúdo factual, sem conhecimento de causa e repleto de "informações" (a meu ver nenhuma que realmente preste) equivocadas.

Ignorantes como você, não sabem que o Amapá, por exemplo, é o estado com um dos melhores salários para servidores públicos do país, e que apesar de sua existência recente, atrai inúmeros investimentos estrangeiros para pesquisas de sustentabilidade ambiental e análise de biomas. Não sabe que o Amapá possui a maior área de preservação ambiental do mundo, dentro do Parque do Tumucumaque. Não sabe que o estado abrirá as portas para um comércio de fluxo muito mais intenso com a Guiana Francesa (e consequentemente com a União Européia) com o término da construção da ponte que interligará ambos os países. Não sabe que Serra do Navio, ao norte do estado, já foi um dos maiores pólos de mineração de manganês do mundo, e que atualmente a MMX, do bilionário Eike Batista (ao menos já ouviu falar dele, não é?) está presente no local, extraindo ouro e outros minérios.

Você bem sabe que o Amapá é curral eleitoral da família Sarney, mas não tem conhecimento de como essa situação triste se instaurou na região. Você pode até saber que a região carece de infraestrutura, educação, saúde e segurança, mas não sabe que é uma das áreas mais promissoras de crescimento econômico, à longo prazo, do país. Você muito provavelmente NÃO sabe que a justiça do estado do Amapá é pioneira no que diz respeito ao apoio legal, à disponibilidade de urnas eletrônicas e o acesso à democracia para seus eleitores, através de projetos como a Justiça Fluvial, dentre outros.


Você não conhece as comidas e frutas típicas da região, e os benefícios que elas possuem. E provavelmente acha que açaí é tomado com guaraná e granola (ou que provavelmente é colhido como árvores arbustiva). Você provavelmente viveu a vida inteira dentro de um apartamento no centro de uma cidade grande, e talvez nunca tenha sequer entrado numa floresta - ou ao menos ter visto um animal silvestre em seu habitat natural.


É alguém sem a menor autoridade sobre o assunto, pois não sabe do que fala. "Não conheço ninguém que sequer tenha estado lá", você diz. Isso demonstra seu conhecimento de causa, seu aprofundado estudo acerca do assunto que discorre, suas fontes fidedignas e seu tino jornalístico.


Poupe o mundo de seus artigos metidos à engraçadinhos. De seus trocadilhos infames com séries populares e suas piadas internas sobre artigos da Desciclopedia. Sua audácia ao publicar aquilo foi estúpida e sua falta de informação medíocre. Imagino que se todos os seus textos seguirem o mesmo nível, o jornal em que trabalha em breve deve naufragar.


A propósito? Você é diplomado mesmo, ou aderiu o movimento pró-Gilmar Mendes? Vulgo "jornalismo dos sem diploma"?


Agora vamos  ver o que vem pela frente...

Ah, e pra quem não sabe, o Amapá fica aqui:


Outras ótimas respostas ao artigo imbecil:
- A Vida é Foda
- Luciana Capiberibe

9 comentários:

  1. Caro astronauta, fiquei muito feliz por vc ter referenciado meu texto como uma ótima resposta ao artigo ridículo do Rogério!
    Abs,
    Sílvio Carneiro

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  2. Fico feliz de saber que gostou da referência Sílvio. Espero que possamos infundir um pouco a cabeça de nossos leitores com um mínimo de senso crítico sobre o assunto.

    Um grande abraço.

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  3. ESTADO AMAPÁ, O QUE ESSE IDIOTA QUER É MÍDIA E ELE ESTÁ CONSEGUINDO, O AMAPÁ É TÃO IMPORTANTE QUE PRA ELE APARECER E SURGIR, UTILIZOU-SE DO NOSSO MARAVILHOSO ESTADO, ANALISAMOS BEM QUE ESTÁ ACONTECENDO O QUE ELE QUER.

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  4. o_O Cara tapado ._.
    Se ele queria aparecer, mais fácil colocar uma melancia na cabeça

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  5. E tipo, quem é ele pra falar? Enquanto no Amapá as árvores dão frutos, em Goiás só dão dupla sertaneja u.u

    ps.:goianosporfavornommematem

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  6. Em que mundo essa pessoa vive hein? Alguém sabe informar? Pra não ter NENHUM tipo de conhecimento sobre meu Estado, o cara deve viver em outro planeta!!!

    Obrigada Astronauta das Marés pelo MARAVILHOSO texto enviado a esse ignorante.

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  7. Obrigado pela apreciação Anônimo. =]

    Pena que não se identificou...

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  8. Às vésperas do natal de 2001, o jornal mineiro Hoje em Dia publicou uma crônica intitulada "Toalha de restaurante alemão", do colunista Eduardo Almeida Reis (http://migre.me/zPrP), que causou a mesma polêmica do texto "Amapá, uma abstração", de Rogério Borges, publicado na seção “Crônicas e Outras Histórias”, edição de 07/04/2010, do até então desconhecido jornal O Popular, de Goiânia (www.opopular.com.br/).

    Sem entrar na polêmica sobre a forma do texto, se crônica ou não, vejo na abstração do Reis sobre o Amapá o humor nada sutil da Toalha mineira. Nada a ver com as provocações imbecis do Mainard, um fascitóide idiota, e com o ensaio "Abraxas: uma abstração e outros absurdos literários", de Damnus Vobiscum, cuja relação fica somente no título.

    Por isso causou-me estranheza ninguém fazer referência ao texto de 2001, que motivou o Ministério Público amapaense a promover ação contra o jornalista mineiro, em que pedia uma indenização de R$ 50 milhões por danos morais ao povo do Amapá (não sei que bicho deu a ação do MP).

    Em seu blog (http://rogeriopborges.blogspot.com), o autointitulado "jornalista por vocação" se defende das acusações que lhe são feitas por amapaenses e se queixa dos ataques pessoais que vêm sofrendo. Tem razão. Muitos comentários postados em blogs que divulgaram seu texto são reveladores de um chauvinismo cego, além de uma uma grosseria típica de ignorantes.

    Mas é difícil aceitar seus argumentos literários em defesa de um texto que, mesmo admitindo-se como crônica, expôs a falta de humor e a crítica mordaz presentes, por exemplo, nas crônicas de um Luis Verissimo, quando aborda temas delicados, que envolvem questões étnico-raciais, culturais e costumes sociais e políticos.

    Ao longo da história da humahidade, escritores e artistas utilizaram o riso como arma de combate à opressão e injustiças. É a sátira que permite a abordagem de questões que não poderiam ser de outra forma, por se situar no limite entre a tensão política e a banalidade social - duas forças que se contrapõem - fazendo transbordar o riso em diferentes formas.

    Para isso, no entanto, é preciso que o escritor/artista conheça profundamente a realidade criticada e tenha domínio da forma do gênero que utiliza, seja uma crõnica, um conto ou a poesia. A de Gregório de Matos, exemplo de sátira barroca, ao apontar erros e defeitos vigentes à época através do humor, manifesta uma profunda relação com a terra em que habita. A sátira de Gregório busca a afirmação de uma brasilidade em oposição a dominação (identidade) portuguesa.

    Se eu esculhambasse com o Amapá - do tipo; sabe por que o Amapá não afunda? Não, é porque merda não afunda - outros amapaenses ririam disso. A razão é simples, estamos situados em um mesmo contexto, o outro amapaense entenderia as razões da minha chacota, mesmo pegando pesado. A linguagem de baixo calão e o chiste estão entre as manifestações que surgem através da sátira. Quem viu a comédia de costumes Ver do Ver-O-Peso, do grupo paraense Experiência, sabe do que estou falando.

    O nosso Borges não entendeu nada disso. Mexeu com forças que se opõem, para ele desconhecidas. Mesmo dando todos os descontos possíveis à forma e ao conteúdo de seu texto, para os amapaenses não passa de um "estrangeiro" que fala mal da terrinha, sem com ela ter alguma forma de relação que justifique, incluindo o plano emocional, a esculhambação; mexeu com forças telúricas e identidades conflitantes de um povo que se sente historicamente marginalizado e objeto de preconceitos por brasileiros de outros estados. Vistos somente através de fatos negativos.

    Tal o Géografo de Itambé do Mato Dentro (pseudônimo utilizado pelo colunista mineiro), Rogério Borges pode botar a culpa por tudo no Sarney e nos surrealistas Marimbondos de Fogo que o elegeram senador pelo Amapá.

    Mas não escapará do destino dos aprendizes de feiticeiro: de tornar-se um imortal da Academia dos Contadores de Piada sem Graça.

    Por Herbert Marcus, jornalista.

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  9. Olá Herbert. Agradeço pelo comentário e gostaria de parabenizá-lo pelo posicionamento sensato que você teve em relação ao texto.

    O modo como você encarou o texto de Borges, sobre a realidade de um estado esquecido pelo restante do pais, motivo de chacota e de ironias, demonstra um conhecimento de causa em relação à crônicas ácidas que poucos conseguiram assumir, ao analisar o texto sobre o Amapá. Mas continuo não conseguindo concordar e achar "divertido" o posicionamento de Borges.

    Como foi dito, uma crítica bem humorada (mesmo que o dito humor seja negro) e pertinente é formada por conhecimento profundo acerca do tema debatido. Seja uma vivência, um estudo ou mesmo uma coleta de dados sobre o assunto. No texto "Amapá, uma abstração" nota-se (e o próprio autor deixa claro) que não é de seu interesse se aprofundar no assunto discutido, e que as parcas informações que tem são oriundas do senso comum.

    Claro, esse posicionamento poderia ser encarado como uma sátira, uma crítica aos moldes do "não sei sobre o estado, justamente porque ele não tem importância", criando assim uma situação cômica em cima da circunstância. Mas cabe lembrar que o autor, como colunista de um jornal e "formador" de opiniões (ou ao menos agitador destas) não se pode dar ao luxo de tratar de um assunto que desconhece.

    O texto foi infeliz ao satirizar algo de forma crítica velada (se havia intenção de humor real, este deveria ter sido mais explícito), e o autor deu um tiro no pé ao tratar de um tema polêmico sem a delicadeza pertinente, ou ao menos sem ter tino para o humor.

    Em um ponto concordo com você: ele bem merece o título de imortal na Academia dos Piadistas Infames.

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