Seções

20 janeiro, 2010

A Maldição dos R$ 0,09



Situação Real #1 (Belém, Pará, 2008):  Entrego uma nota de R$ 5,00 para a moça do caixa, em um determinado mercado Y (que não vamos identificar, para não causar constrangimentos - embora quem more em Belém não vá ter tanta dificuldade em adivinhar qual é), para comprar um pacote de Bono. O diálogo foi mais ou menos assim:
- Caixa: "São R$ 1,59. O senhor não teria sessenta centavos pra ajudar no troco?"
- Eu: "Não. Foi mal. Só estou com essa nota..."
- Caixa: "Ah..." - suspira ela - "...espera só um instante..." - e logo sai, para perguntar ao caixa vizinho se ele tem moedas miúdas. Menos de um minuto depois ela volta e me entrega o troco. Exatos R$ 3,41
Surpreso com a quantia exata, comento:
- Eu: "Nossa, o troco tá certinho! É difícil ver uma moeda de um centavo por aí..."
A caixa sorri e, depois de uma olhada rápida e nervosa ao redor, comenta:
- Caixa: "É o jeito... Fiquei sabendo que o gerente tava tendo alguns problemas por causa dessas moedinhas..."

Na hora achei graça. Me veio à cabeça a velha piada do cliente querendo pagar as compras com balas de menta, após recebê-las como troco no dia anterior, por falta de moedas miúdas no caixa. Então deixei a história de lado...

[Nota Fora de Contexto: Ao longo de 5 anos morando em Belém, acumulei quase dois reais em moedas de um centavo, com as quais planejava irritar algum cobrador de ônibus azarado que me pegasse de mal-humor. Infelizmente, não sei que fim levaram as moedas...]

Situação Real #2 (Londrina, Paraná, 2010): Entrego uma nota de R$ 2,00 para a senhora do caixa, em um determinado mercado M (que também não vou identificar, para não causar constrangimentos - e que, neste caso, não é tão fácil de ser identificado pra quem mora em Londrina), para comprar um Twix ("Caramelo, biscoito, chocolate..." Vocês conhecem!).
Segue o diálogo:

- Caixa: "São R$ 0,99. Você não teria alguma moeda pra ajudar no troco?"
- Eu: "Eita... Não tenho mesmo..."
- Caixa: "Tudo bem!" - diz ela sorrindo, enquanto pega minha nota e me devolve uma moeda de R$ 1,00.

Pego a moeda, ignorando o centavo que falta no meu troco, e vou pra casa mastigando o Twix. Meu humor está ótimo, e o chocolate bom como sempre. "Às favas com o centavo..." - provavelmente eu pensaria, se estivesse pensando em algo no momento.

Durante a noite, relembrando dos eventos ocorridos de dia, o centavo bate na memória. Meus súbitos desvaneios de lógica esdrúxula chegam à uma conclusão óbvia, que explica o porquê dos "problemas do mercado Y" com seus trocados: Imposto de Renda!

Raciocinemos da seguinte forma: se uma pessoa jurídica cobra R$ 1,00 por um produto, uma devida carga tributária (ICMS, IPI, ISS...) será cobrada em cima daquele valor. Logicamente, a porcentagem será deduzida em cima do R$ 1,00 cobrado. Agora, caso seja cobrado "apenas" R$ 0,99 (uma pechincha aos olhos de alguns), toda a tributação será cobrada com base neste preço, ignorando o 1 centavo de sobra.

O ponto é que, na maioria esmagadora das vezes, a cobrança deste um centavo a menos é apenas ilusória, pois são poucas as vezes em que um estabelecimento comercial possui moedas tão miúdas para o troco. Assim, cobra-se "apenas" 99 centavos, mas obtém-se 1 real, e deduzindo 1 centavo da conta, para que estes não sejam vítimas de taxação.

Parece pouco, é claro. "Que mal faz um mercado lucrar um único centavo, sobre produtos insignificantes." - você pensa. Mas logo esquece que este lucro é potencializado imensamente, pois a movimentação financeira de um estabelecimento comercial de grande porte é igualmente imensa. Portanto, não é 1 centavo que o mercado/loja está sonegando, são milhares/milhões de reais anuais. E este dinheiro, meu amigo, deveria (ao menos na teoria) voltar para você, sob a forma de benfeitorias municipais, estaduais e federais. Afinal, é pra isso que você paga impostos, não é mesmo?

Pense nisso quando for receber seu troco e deixar de lado o centavo que tem direito. Pense que estão te enganando (e de fato estão). Deixe as balas de menta para trás e exija o que é seu por direito. E lembre-se que os direitos são inerentes à qualquer cidadão, mas apenas aqueles que tem consciência destes conseguem usufruir inteiramente de sua proteção.

E pra fechar o post, uma informação curiosa: o custo de produção de uma única moeda de R$ 0,01 é igual a R$ 0,10; o mesmo que o de uma cédula de R$ 1,00. Ou seja: ao exigir seu centavo, você estará recebendo o equivalente a um valor dez vezes maior. E se você é mesmo otimista, pode imaginar que recebeu um real em cédula...

Nenhum comentário:

Postar um comentário

O Astronauta das Marés agradece profundamente pelos comentários de seus leitores. Cada interação do público com o blog me motiva, ainda mais, a postar novidades e escrever textos de qualidade. Obrigado pela força galera.

Ah, e comentários que iniciem discussões serão levados adiante, caso o assunto seja de relevância.