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04 maio, 2008

Movido à gasolina

É engraçado como existem pessoas que dão extremo valor a coisas fúteis. Nós seres humanos somos, sem sombra de dúvida, criaturas dependentes de distrações, de entretenimento, de coisas "kitsch" (do alemão, algo cômodo desnecessário). Gastar parte do tempo e do dinheiro com filmes, jogos, livros, roupas, viagens e inúmeros outros bens de consumo não é luxo, é um conforto... Mas existe um limite que delineia ambas as categorias.

Um de meus amigos anda me surpreendendo ultimamente. Não que eu não soubesse que ele adora carros tunados, mas nunca tive idéia da dimensão do fanatismo dele. Oras - você deve estar pensando - convenhamos, quem nunca quis ter um carro rebaixado (ou aumentado), com pintura personalizada, faróis mais fortes, uma roda de Aro "X", e por aí vai... Talvez todos nós já sonhamos com isso um dia. Talvez até mesmo em trabalhar com isso. Mas creio que muitos dos leitores sabem que carros tunados não são prioridades na vida de ninguém. Ninguém maduro pelo menos, ou que não trabalha no ramo.

Um certo amigo, que obviamente não direi o nome, pensa diferente. Para ele, que vive a dizer que enfrenta dificuldades financeiras, gastar MUITO dinheiro com um carro modificado, que bebe combustível como uma draga de petróleo, é uma prioridade. Não que ele tenha um... ainda! Mas seu empenho financeiro é este. Nada de pensar no empenho dos estudos, no emprego como prioridade ou na família e nos amigos. Um carro com motor de avião, para andar nas ruas esburacadas do norte do país, que faça 4 km com 1 litro, com turbo-nitro-etc, que solte faíscas da traseira, que empine quando arrancar, cujo motor ronca mais que um urso-metaleiro-assustado e que seja unicamente destinado à rachas por um punhado de notas de 100, é tudo.

Não importa se o preço da gasolina só aumenta, o carro faz 4km com 1 litro e o motor poluirá o ar como uma carvoeira. Não importa se existem modelos simples e econômicos com motor 1.0 disponíveis no mercado, com preços acessíveis. Nem se a cidade em que ele mora mal tenha asfalto. Nem se correr pra apenas para impressionar as outras pessoas, e provar que é melhor que os outros, seja um desvio de comportamento classificado como auto-afirmação e complexo de inferioridade. Nem se o custo de manutenção de peças antigas é altíssimo. Tudo o que importa é que ele QUER o carro.

Existe o hobbie, o entretenimento, a diversão. Coisas normais, saudáveis, necessárias. E existe a fixação por algo fora da nossa realidade, algo inviável, que não condiz com nossos padrões financeiros e regionais. Uma perda de tempo, dinheiro e esforço que poderia ser mobilizado para algo útil. Mas para algumas pessoas isso não importa. O que importa é fugir das obrigações, responsabilidades e dificuldades.

Apenas ilusões movidas à gasolina.

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