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08 abril, 2008

Conto: Armada

Centenas de setas incandescentes rasgaram o límpido céu azul, rumando impiedosamente em direção às muralhas de Belforte. Ceifando em um piscar de olhos a vida de dezenas de soldados, que mantinham posto sobre as plataformas elevadas, acima do portão principal. Estes, apesar de saraivados continuamente, se mantinham firmes; rígidos em suas posições, crentes de que se o comando para uma retaliação ainda não fora dado, é por que ainda não era chegada a hora de reagir. E por isso morriam...Serenos, tranqüilos, com a certeza de que sua missão havia sido cumprida. Por hora, serviriam de semblante da notória firmeza e da devoção absoluta das tropas de seu reino. Morrer já não era uma vergonha, mas sim uma condecoração silenciosa e esperada em suas ambições.

Ansiaram a vida inteira por este momento...

O efeito então, ocorreu exatamente como o esperado: seus inimigos, perplexos, sentiam no âmbito de sua própria alma um temor repentino, misturado a uma dose incompreensível e incômoda de inveja e assombro. De súbito, muitos destes largaram suas armas, e em meio ao pavor e ao desespero de uma guerra sem motivos, puseram-se a chorar. Em parte, por finalmente compreenderem a falta absoluta de necessidades para seus atos. Em parte, por saberem que no fundo de suas almas, não possuíam tamanha resolução e fé quanto àqueles que matavam. Em parte, porque não queriam e não saberiam morrer.

Mas já era tarde. Em um segundo repentino, que parecera séculos, o comando fora dado. Por detrás das fileiras vazias, semeadas por centenas de mortos, surgiu um batalhão imensamente maior de guerreiros; desta vez, dispostos a matar.

E das muralhas de Belforte, cravejadas com setas ardentes, partiu uma tempestade laminada. E aqueles que há pouco choraram, vislumbraram o céu azul pela última vez.

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