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26 maio, 2014

Crônica - Nebular

Olhei pro céu hoje e vi um tapete frio, nebuloso e escurecido me separando da velha sensação familiar que tive em minha primeira epifania verdadeira.

Onde outrora havia um telhado azul, com um sol de bilhões de anos iluminando o mundo, naquele momento reverberava a melancolia de sentir-se desconectado.

Embora fosse sabido que logo ali, há milhares de milhares de medidas imensuráveis de distância fulguravam estrelas, que mesmo há um infinito de lonjura faziam parte de mim, o teto branco impenetrável e austero fez-me sentir solitário.

Melancólico, procurei sentido e lição no que o céu poderia me ensinar. E tive, não com a mesma intensidade, deslumbramento ou majestade quanto a primeira, uma nova epifania.

Existem coisas nos separando. Existem, de fato, dias frios e nuvens densas. Existem momentos em que o onipresente azul celeste e o infindável negrume espacial estão além de nossos sentidos e de nossos pequenos "eus" de dimensões pequenas. Somos, ainda que entidades cósmicas, minúsculos componentes autômatos e individuais. Pedacinhos significantes buscando o próprio significado.

Este outro lado, curiosamente, não me trouxe o mesmo assombro que tive com a primeira epifania. Creio que antes de compreender o que realmente somos como todo, existe em nosso íntimo uma noção parca do que somos como parte.

Meros espectadores do infinito.

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