Seções

29 outubro, 2011

Crônica: A Esquina dos Mundos - Parte 1


Esta crônica, juntamente com os textos da série Diálogos, integram um projeto, que espero publicar em breve, chamado Crônicas de Coisas Comuns.

A Esquina dos Mundos faz parte do capítulo com relatos dos sonhos mais marcantes que já tive, juntamente com os textos "Ela", "Primitivo", "Ruínas", "Redenção" e "Infinito". A Esquina é o maior texto do livro, por isso estou postando aqui apenas a primeira parte dele - a segunda parte postarei na semana que vem.


A primeira vez em que eu visitei aquele lugar foi em um sonho. Eu adormeci após uma noite de festa, embriagado, ainda embalado por músicas que jamais havia ouvido antes. Talvez, por conta do turbilhão ébrio, eu não tenha me dado conta de como cheguei ao lugar, ou qual era exatamente o contexto daquele sonho. Mas como dizem, sonhos são sonhos.

A primeira coisa que me lembro era de estar dentro de uma carruagem, do tipo visto em filmes que remontam a Europa de dois ou três séculos atrás. Era uma carruagem com o interior todo em madeira, com pequenas janelas adornadas por cortinas de veludo escuro. Lembro de estar sozinho no veículo, e que este era conduzido por um cocheiro silencioso, que em momento algum dirigiu a palavra para mim. O único barulho marcante era o trotar do cavalo que a puxava, embora possam ter sido dois ou até mais e eu não saiba dizer.

De súbito a carruagem parava em frente à uma calçada cinzenta, projetada em um ângulo obtuso arredondado, no cruzamento de duas ruas enevoadas pela neblina da madrugada. Eu lembro de saltar do veículo e sequer olhar para trás, apenas ouvindo o cocheiro partir rapidamente, estalando as rédeas no(s) cavalo(s) fantasma(s) atreladas a ela.

Em seguida, me deparei com o local que, ao menos em meu subconsciente, busquei naquela noite. Servindo como ponto de encontro entre as duas ruas entrelaçadas, uma pavimentada com asfalto novo, ainda exalando o forte cheiro de piche e tinta, outra feita de enegrecidos blocos de pedra, geometricamente encaixados, havia um meio fio de cerca de vinte centímetros, adornado por uma boca-de-lobo repleta de limo, composta por ferro há muito oxidado.

Sobre a calçada, a poucos passos do fim da rua, elevando-se como um guardião da esquina havia um belo poste vitoriano, escurecido por um sem número de anos. Ele era alto, podendo facilmente atingir três metros de altura ou mais, e sua iluminação, que presumi ser a gás, era amarelada e fraca. Quase como se este quisesse manter algum tipo de discrição, mesmo sendo o único poste daquele modelo em quadras de distância.

Por breves instantes, ao mirar a projeção de sua luz na rua, pensei ter visto pequeninas figuras humanóides, fulgurando e dançando por entre as chamas, tal qual as mariposas que se entregam ao fogo em um clímax suicida. Mas para o que outros viriam ser fadas, minha razão logo repreendeu qualquer forma de devaneio e me deu certeza quanto ao comportamento dos insetos atraídos pela luz incandescente.

E ao retornar, e terminar, minha análise sem propósito do obelisco erigido no meio da calçada, notei duas pequenas indicações em forma de placas, tais quais os pequenos indicativos das ruas, usualmente presente em marcos de esquinas. Ambas eram de bronze, já esverdeadas pela umidade do local e pelo tempo, e ao invés de estamparem os nomes das ruas que se cruzavam, apenas diziam: “A Esquina dos Mundos”.

3 comentários:

  1. Matheus, onde vc conseguiu esta foto?
    No fim do ano passado visitei uma exposição de fotos em preto e branco, a grande maioria noturns, feitas nas ruas de Paris, e esta me lembra em muito uma daquelas fotos.
    Eram lindíssimas!

    ResponderExcluir
  2. Matheus, onde vc conseguiu esta foto?
    No fim do ano passado visitei uma exposição de fotos em preto e branco, a grande maioria noturns, feitas nas ruas de Paris, e esta me lembra em muito uma daquelas fotos.
    Eram lindíssimas!

    ResponderExcluir
  3. Oi Mari, tudo bem? Bom, a grande maioria das fotos que eu posto no Astronauta são de domínio público, mas algumas eu retiro de um site-acervo de ilustradores e fotógrafos chamado DeviantArt. Infelizmente não lembro se tirei essa foto de lá (eu devia ter lembrado de dar crédito ao artista, mas sempre esqueço de fazer isso).

    Se você abrir a imagem em outra janela, irá ser direcionada para uma aba cujo título é o nome da foto. Através dele creio que conseguirá achar o fotógrafo, jogando no google ou no próprio deviant.

    Abraço.

    Obs: E é mesmo uma belíssima foto. Sou meio exigente com isso por aqui mesmo. =]

    ResponderExcluir

O Astronauta das Marés agradece profundamente pelos comentários de seus leitores. Cada interação do público com o blog me motiva, ainda mais, a postar novidades e escrever textos de qualidade. Obrigado pela força galera.

Ah, e comentários que iniciem discussões serão levados adiante, caso o assunto seja de relevância.