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11 abril, 2007

Ahhh, esçe meu Bráziu...

Assim nasceu o povo...

...Neto de um estrangeiro bigodudo, de sotaque engraçado, hálito forte e acostumado a vestir-se com roupas pesadas. Nunca conheceu direito seu avô materno, talvez porque este tenha há muito abandonado seus rebentos à própria sorte e voltado para casa ao além mar; talvez, porque o verdadeiro intuito deste não incluísse uma progênie em seu legado. Após seu retorno às terras distantes nunca mais sequer incomodou-se com o bem estar de seus rebentos.

Sua avó materna, uma analfabeta naturista, limitava-se a viver consumindo o necessário para seu sustento. Nua e ingênua, sujeitava-se aos abusos do marido (que jamais aceitou como seu) por imposição, medo e falta de informação. Não suportando mais tantos maltratos, a pobre fêmea morreu dando à luz para a mãe do povo.

O avô paterno foi o mais sofrido. Passou uma infância iludida, em belos campos abertos, vivendo feliz e livre até sua maturidade. Desde então, capturado como um animal selvagem, conheceu o mundo amordaçado, surrado e violentado. Sempre em silêncio.
Às escondidas teve um filho, mas não chegou a vê-lo nascer.
Morreu antes; de tristeza; dentro de uma jaula.

A avó paterna era uma fugitiva. Perseguida em terras distantes, correu para longe das matas de pedra. Seus familiares a sufocavam e reprimiam, e esta, ansiando por seu espaço fixou-se nas matas de folhas.
Morreu idosa e doente, infeliz com seu passado e desgostosa com as atitudes do filho.

A mãe do povo puxou a avó, submissa, desinformada e ignorante. Desprovida de educação, iludia-se com as promessas do esposo. Uma casa melhor, uma saúde melhor, uma vida melhor...

O pai do povo era um boêmio canastrão; bebia, mentia e vivia “na vida”, sempre às escondidas, sempre sob os panos. Sua imagem nos jornais já era outra; defensor do povo, amigo de todos, honesto, cidadão ícone. Iludiu a esposa, deixou o povo abandonado; hoje, manda supremo em sua casa.

O povo, herdeiro do país, nascido de quatro etnias, descendente de várias culturas, filho de um pai relapso e uma mãe submissa, nunca teve nada.
Suas heranças foram: fome e miséria; preconceito e discriminação; vergonha e ignorância.

Hoje chora; reprimido, desiludido e perdido...
...E assim morreu o povo; por mãe negado, por pai fodido...

3 comentários:

  1. Ótimo. Cuidado p ninguém mandar p Veja ou Isto é e dizer que foi ele que escreveu...

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  2. Cara... Atingiu como um objeto metálico perfuro-cortante no meu esqueleto axial! Em suma: pqp!

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