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11 novembro, 2012

Crônica - Óleo

Transpiro óleo. Sentado em frente ao computador sinto as pontas de meus dedos encobrirem o teclado com um gordura fina e inodora, quase decorativa. Incomoda mas não sinto nojo. É uma forma de marcar cada um dos meus pertences com partes de mim.

Meu aperto de mão é firme e os resíduos duradouros. Meu rosto é encoberto por uma camada protetora que o impede de suar com freqüência  Minha pele nunca está resecada e os cabelos reluzem sob o sol. Um castanho claro tão oleado que parece loiro escuro durante o dia e cinza claro de noite. Pontilhado por marcas brancas da caspa fracamente controlada.

Um esfregão na testa e as mãos ficam brilhantes. Mais um rumo à pia. O processo é repetido uma dezena de vezes por dia. Com um pouco de humor o óleo vira hidratante natural para outras partes do corpo: da testa para a nuca, das mãos para as coxas, das costas para os braços. Com irritação, o leite de colônia é um placebo. Temporário ou não, o óleo me acompanha. Inesgotável.

Minhas roupas são marcadas mesmo sem suor. Nas refeições, cheiro de comida; após o sono, algo que não sei precisar. As mulheres de minha vida dizem ser este meu perfume: impossível de definir, confortável, ainda que pungente.

E assim envelheço aos poucos, recoberto por um exoesqueleto particular e renovável. Um emissor de sinais químicos incontroláveis, marcando cada um de meus passos e toques. Meu modo pessoal e incômodo de ser onipresente.

Um comentário:

O Astronauta das Marés agradece profundamente pelos comentários de seus leitores. Cada interação do público com o blog me motiva, ainda mais, a postar novidades e escrever textos de qualidade. Obrigado pela força galera.

Ah, e comentários que iniciem discussões serão levados adiante, caso o assunto seja de relevância.