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31 outubro, 2007

Saudade

Em março do ano que vem farei 4 anos morando fora da casa dos meus pais. Parece pouco tempo, mas pra mim é uma eternidade. Estou morrendo de saudades de casa.

Antes eu era uma criança, criança mesmo. Com 17 anos, sem nenhuma referência familiar nesta cidade de gente maluca que é Belém. Morar acompanhado também não deu muito certo: me deparei com pessoas criadas em (des)estruturas familiares completamente alienígenas à minha. Não que tenha sido ruim conviver e aprender com pessoas diferentes, mas como qualquer mistura heterogênea, uma hora a diferença fica visível demais.
Antes só do que mal acompanhado, é o que dizem... Eu, particularmente, concordo com isso...

Mas acho que o mais curioso de morar fora, sendo sincero, é a sensação de “iminência de responsabilidade”. Convenhamos, se eu não pagar minhas contas, arranjar minha comida, me locomover até a faculdade/estágio/trabalho/festas/etc... ninguém fará por mim. Sério! Até fiz uma experiência com roupas, louças e velas, mas depois de uma semana acumulando o cesto de roupas sujas e a pia com sujeira, minhas orações não lavaram nada por mim.

Ah, e orações também não pagam contas. Nem loterias; nem rifas; nem amigos prestativos; nem namorada com emprego; nem ninguém... Gaste todo o $ do mês com besteiras antes de pagar as contas e apenas observe o que acontece... Uma dica: Não será nada divertido!

Os preços do pão, do leite, do prato-feito, do sabonete, do papel higiênico, do sabão em pó, do presunto, da gasolina/vale-transporte, do queijo, e da carne também são relevantes (acredito que camisinhas também entram nessa conta). Pelo menos, MUITO mais relevantes do que a entrada da boate, que a caipirinha na cachaçaria, que o jantar numa pizzaria, que o ingresso do show, que a hora da lan house, e que uma roupa nova. Ao morar sozinho, “sobreviver com dignidade” se torna prioridade, em detrimento do “aparecer com futilidade”. Embora acredite que muitos jovens ainda não se deram conta disso.

Morar só ensina a dar valor a tudo. Ao conforto preguiçoso dos 5 minutos antes de levantar da cama; ao almoço delicioso “estragado” pela salada que nossa mãe insiste em colocar; às brigas com os irmãos; aos banhos de água quente; ao luxo de não se estressar no trânsito quando nossos pais dirigem; aos “boa noite”, “eu te amo” e “venha almoçar” que passam desapercebidos. Ensina a dar valor ao amor e à saudade.

Quatro anos longe de casa, e tudo o que me arrependo é de não ter percebido, antes, o quanto é maravilhoso estar cercado das pessoas que amamos e dos pequenos luxos que tornam nossa vida mais fácil.
E só de pensar que ainda terei outras eternidades de saudades pela frente, aprendo a dar cada vez mais valor.

Este texto é dedicado a todas as pessoas maravilhosas que eu amo (e àquelas que me amam), mas que as enormes distâncias deste mundo pequeno insistem em separar. Dedicado ao meu pai e à minha mãe, à minha irmã e aos meus avós, aos meus cachorros e meus amigos; e aos seus também. Dedicado a todos os “Filhos das Distâncias” que um dia, nesta ou em outra vida, voltarão para casa.

Mesmo que até lá, pareçam ter passado eternidades.

2 comentários:

  1. Deve ser mesmo tudo muito prazeroso sentir na pele as responsabilidades... apesar de ainda morar com meus pais e ter 24 anos... não me arrependo de morar com ele... é claro que não estou dizendo que o que fizeste foi ou é errado, mas apenas estou dizendo isso porque ainda não tive o prazer de sair de casa e morar só, não sinto a menor vontade de fazer isso... mas não nego que não quero Belém pra se morar ( é uma cidade legal, mas melhor que Belo Horizonte não é) não sou paraense, sou cearence e tenho orgulho da minha raiz, se bem que não sei na verdade... é uma mistura. Mas voltando as responsabilidades... não sei se teria a coragem de deixar minha família... eu os amo demais, não sei qual a sensação tivestes após deixá-los para trás... mas não deve ter sido uma experiência legal, porém tudo nessa vida se acostuma um dia! E se é pra nos acostumarmos a viver novas experiência... a de crescermos não só proficionalmente, mas também espiritualmente, emocionalmente... enfim... que seja agora!
    Parabéns por vencer os obtáculos!

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  2. É mlk, vida de quem mora só não é fácil. Agora eu entendo porque meu pai me levava, quando eu era uma pirralha, pro banco me ensinar a mexer em cx eletrônico. eu pensava: "ai que saco!" hoje eu penso: "ainda bem que me ensinou".
    É duro morar só, mas tem lá suas vantagens, dormir a hora que quer, começar a estudar o horário que quer e outras coisas mais.
    Outra coisa, não sei se acontece com mais alguém, mas eu por morar quase 6 anos fora quando volto nas férias na primeira semana eu sou intolerante às ordens dos meus pais, até que vou "regredindo" ao meu papel de filha e não de dona-do-meu-nariz.
    Como tudo na vida morar só é bom e ruim. Saudade a gente mata um dia...

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