Achei que tivesse esquecido como escrever.
O passar dos dias, tão iguais, me endureceu para as
palavras.
Vejo-as distantes, como um vislumbre dos brilhos e fulgores
que adornam o céu após o entardecer. Mundos antigos, com suas próprias
histórias contidas em pouquíssimos sons.
Tão gastas e usadas, tão carentes de um foco e precisão, que
acabam por tornar-se únicas.
Não foram as minhas palavras que se esvaíram. Mas as filhas
da poesia. As notas com as quais eu ousava compor poucos e estimados sonhos. As
lágrimas e dores tecidas em poucas cartas de amor. Quem dera tê-las escrito
mais, ou com a paixão com as que deveria tê-las encharcado. Quem dera tê-las
amado plenamente.
Foram as cores com as quais pintei retratos de sonhos.
Paisagens oníricas de uma mente vivaz e desprendida das amarras de um mundo
crível. Meu sonhar abstrato era tão doce e caótico o quanto algo proibido
deveria ser. Ainda assim, nenhum deles tivera um fim. Quem dera tê-los
finalizado, como quem termina uma lenda épica enfeitada com epígrafes e
nostalgia.
Foi a música que nunca soube tocar, e as cordas de uma
realidade que a mim soava tão musical quanto a mais bela e imperfeita sinfonia.
Quem dera ter ouvido mais. Ter bailado sob os significados e neologismos tão
próprios e profundos, que poucas delas soariam reais fora do meu contexto
pessoal. Fora de mim.
Quem dera ter publicado um ou dois ou todos os livros. De
poesia e contos, de crônicas e delírios. Livros com espaços vazios entre as ideias,
eras e outras banalidades. Livros sobre mundos e suas conexões, sobre esquinas.
Tomos intermináveis, poesias de poucas linhas, agradecimentos e notas
explicativas, cada qual uma obra por si só.
Queria ainda ter o que dizer.
Comece e termine. Não tenha pressa. ok?
ResponderExcluirAinda vou comprar um livro seu.
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