- Você deve ficar ao lado dela e confortar essa pessoa - respondeu a bruxa.
- Mas e se o motivo do sofrimento dessa pessoa for a minha presença? - desesperou-se Ana.
A velha senhora a encarou em silêncio. Admirou-se com a maturidade da dor vivenciada por um coração tão novo.
Pensou na injustiça de um mundo que relega o sofrimento daqueles que queremos bem, ao nosso simples existir. Nas crueldades do amor e na culpa entrelaçada pelo fantasma da solidão. Pensou nos rastros desastrosos que meros sorrisos podem causar, e na amargura que se destila das lembranças doces dos amores interrompidos.
Olhou para Anabela e pousou uma das mãos com suavidade em sua cabeça. O olhar distante, atravessando séculos, até seus tempos de menina. Viu-se refletida na inocência que um dia tivera em si, e que ha muito murchara como uma flor que deixou de ser regada.
Lá no fundo, em seu coração ressecado e frio, vivenciou a tênue e breve felicidade de um dia ter amado.
- Então, meu anjo, você deve se afastar para não causar essa dor. E deverá apenas orar, às cegas e em silencio, para que o sofrimento de quem você ama seja fugaz. Pois assim, Ana, é o amor. E dentre suas inúmeras qualidades, o amor é injusto e genioso. E seu poder deve ser respeitado.
- Anabela e o Mundo, pg. 27
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ResponderExcluirQueria ter lido isso há mais ou menos um ano...
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